O Pragmatisminho Militar

C. S. Xavier
4 min readOct 20, 2024

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Pragmatolóides

Cansamos de ouvir que a metonímiaForças Armadas” é positivista e pragmática. Para começar, a descrição correta da realidade — sem termos os dados estatísticos precisos, mas apenas impressões, testemunhos ou experiências; além de falas ou escritos de alguns deles, posturas e decisões acumuladas — é que boa parte ou talvez a maioria, em especial dos oficiais generais, são manifestamente positivistas (mesmo que não saibam disto e nem bem o que é isto) e, além disso, pensam que são pragmáticos, mas, na verdade, são meninos ambiciosos brincando de ser os excelentes estrategistas, utilitaristas eficazes e eficientes gestores, que entregam bons resultados naquela partezinha ali de um, na melhor das hipóteses, Pragmatismo Mutilado.

Sobre a predominância do Positivismo na alta cúpula das Forças Armadas, já comentei sobre isto no ensaio “A Matrix dos Militares de Alto Escalão”; agora, sobre a pretensão de haver um a Pragmatismo entre eles, isto só pode ser verdade num aspecto muito caricato, raso, obtuso, diminuto; mas quando operam na política comezinha e, assim, necessitam estabelecer relações entre as potestades e principados atuantes no mundo atual, o “Pragmatismo” desses militares é pueril, débil, com um facho de luz da espessura de uma luz de led.

Quando esses oficiais generais e superiores se chamam de “pragmáticos” só se referem a relações econômicas, aparentes vantagens comerciais, eficiência e eficácia materiais (pagando barato e resolvendo os problemas — num alcance materialista e puramente economicista — que podem conceber no mais puro suco de imediatismo), que é o que estão acostumados fazer em suas rotinas predominantemente administrativas. Porém, quando é preciso deter uma visão macroscópica, profunda e multifacetada, vemos o quão superficial, simplório e até boçal eles se mostram. É como ficou bem claro isto com o problema do 5G no Brasil que ocorreu durante o governo do Jair Bolsonaro, em que, grande parte ou a maioria desses camaradas (mais diretamente os que integravam o governo federal), só pensavam no que seria mais barato e vantajoso ao Brasil; independente do problema de o que é, o que quer e o mal que pode ser capaz de fazer, aquele que vai vender, como seria o caso do megatubarão centenário do Partido Comunista Chinês (PCC), vulgo China.

Eles parecem não compreender contra quem estão lidando (em todas as suas camadas de complexidade e malignidade) — e se não todos, mas quase todos desses militares ou políticos de alto escalão —, e ainda fazem pouco esforço, por suas visíveis soberbas, para compreenderem (e exalam desprezo por quem já mostrou que conhece) a complexa realidade do arranjo de poder e da capacidade de maldade que jaz no mundo da atualidade em que vivem.

“Posso afirmar para vocês que é só no Brasil que as pessoas acreditam nesse mundo pragmático, isso é um mito brasileiro. Acho que esse mito nasceu do fato de as pessoas observarem que existem outros países que tiveram mais sucesso, que ficaram mais ricos. E, como o brasileiro tem um complexo de inferioridade danado por causa disso, então ele tenta reagir, e acha que ele se endurecer nesse pragmatismo vai lhe dar alguma sorte, algum sucesso na vida. Não espanta que seja um país de fracassados. Um país onde o fracasso é normal e o sucesso é tão anormal que suscita inveja e ódio. Então, quando o sujeito tem sucesso, todo mundo quer matá-lo. Se o sujeito tem alguma qualidade, é um homem inteligente, é um sujeito rico, é um cara bonitão, ou é uma mulher bonita, gostosa etc., todo mundo quer matar. Então, o “normal” é todos os fracassados se juntarem num bar e ficarem falando mal da existência e falando mal de todo mundo — esse é o destino brasileiro”.

Olavo de Carvalho

Agora, imagina a cosmovisão política e estratégica (de curto, médio e longo prazos) de um Vladimir Putin (ex-KGB) na Rússia ou de um Xi Jinping (o “frente” de um partido comunista centenário, no poder desde 1949, e que em 2019 tinha 88 milhões de membros)? É inenarrável. Estes dois sim são pragmáticos no sentido pleno da palavra, e não no provinciano de administrador inculto em tudo o mais, tolo e prepotente; estes gênios do mal movimentam suas ações (sejam econômicas, comerciais, políticas, culturais, militares, esportivas, diplomáticas) dentro de uma tática — organizada e coordenada com outras —, e objetivando estratégias globais de várias janelas de tempo, em prol de uma dominação, anulação ou controle sobre a outra parte.

Um Putin ou um Jinping são pragmáticos stricto sensu, manipuladores, estrategistas e que sabem e calculam praticamente tudo o que fazem (já contando com a capacidade ou inaptidão do adversário e suas reações, para mexerem suas peças, como são nossos militares e quase todos políticos nossos eleitos). Já os oficiais generais (e os superiores), em sua normalidade, são meninos caipiras metidos perto dessas cobras vermelhas (ou dos globalistas ocidentais); são administradores de caserna e gestores de contratos eficientes e de baixo custo. Um Pragmatisminho militar provinciano e utilitarista, e nada mais…

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C. S. Xavier
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Written by C. S. Xavier

No exercício contínuo da mais perene atividade entre os mortais.

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