Os Reais Homens-Formigas (Vermelhas)

C. S. Xavier
5 min readJan 7, 2024

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Os Reais Homens-Formigas

Todo o conhecimento da realidade se dá pelas essências universais extraídas de cada ente ou criatura conhecida em particular. Em outras palavras, é pela percepção sensível dos particulares que imediatamente temos uma percepção inteligível deles de inúmeras de suas capacidades e possibilidades, o que nos proporciona simultaneamente uma apreensão generalizada de suas potências ou de seus círculos de latência imediatos, necessários e contingenciais, reunindo-os, assim, em arquétipos universais, que tanto agrupam suas características singulares em comum quanto os generalizam em categorias superiores abrangentes que nos permitem reconhecê-los independente de suas variações acidentais e propriedades periféricas que os acometem ou que pairam sobre eles em possibilidades praticamente ilimitadas.

Quanto mais simples um ente ou criatura, menor será a divergência entre cada um de seus representantes particulares e suas espécies universais (que concatenam suas essências gerais), já que possuem um círculo de latência mais estreito, com menos potências e contingências. Dito de outra forma, a simplicidade de uma dada espécie faz com que cada um de seus representantes individuais sejam mais similares entre si e também mais previsíveis por conterem menos propriedades diversificadas; é como se fosse ínfimo o desvio padrão entre a essência captada de um indivíduo — e que forma a essência universal de toda a espécie — para um outro indivíduo, ou seja, captou o universal de um membro, meio que captou de todos.

Quando, por exemplo, analisamos um protozoário, ou uma bactéria, quase não vemos diversidade entre um representante da espécie de um outro; ambos formam uma essência universal que praticamente compõe uma identidade com cada indivíduo, sem muitas surpresas, digamos assim… Avançando nesta análise, quando observamos uma formiga e, desta, apreendemos os seus universais que constituirão a espécie das “formigas”, pode haver variações de tamanho e cor entre elas; ligeiras distinções de hábitos e propriedades individuais e sociais; mas de uma forma geral não surpreende tanto o que as espécies mais diametralmente opostas das formigas fazem, quanto, por exemplo, à divergência quase que infinitamente abrangente que se chega na espécie dos homens. Portanto, uma bactéria tem bem menos variabilidade em relação a todas mais do que uma formiga tem em relação às demais; e as formigas têm incomparavelmente menos variabilidade do que os humanos.

A diferença máxima possível entre os humanos mais diametralmente opostos é abismal e é até difícil estabelecer seus limites entre bondade e maldade, inteligência e burrice, capacidade e incapacidade. Basta verificar o universo de diferenças que há entre um santo e um tirano, entre um sábio e um pacóvio, entre um atleta e um sedentário; ou entre membros de uma cultura ocidental e de outra oriental, entre um de uma religião e um outro de outra (ou um sem religião), entre membros de uma tribo primitiva e os sectários de uma universidade tomada de ideologias neomarxistas. Enfim, é necessário de muito mais categorias para compor todos os universais possíveis humanos, cujas essências em comum continuam a existir em diversidades ímpares — ontológicas, biológicas, químicas, físicas, psicológicas — mas com uma gama quase infindável de capacidades, propriedades, probabilidades, combinações e acidentes dadas suas dimensões sui generis espiritual, intelectual, lingüística e motora.

Desta forma, quando um ser humano se limita ou mesmo rebaixa suas próprias capacidades ontológicas de formas crônicas — especialmente as citadas anteriormente: espiritual, intelectual, lingüística e motora (e não falo de pessoas acometidas por doenças que levam a estas perdas, mas das que, por conta própria, buscaram e escolheram tais handicaps negativos) — , praticamente se alienando daquelas propriedades que mais nos tornam humanos e, desta forma, ficando abaixo do mínimo que se espera de suas dimensões espiritual, intelectual, linguística, motora pertinentes à espécie humana — que são as dimensões que nos elevam infinitamente acima de todas demais espécies, já que só de um ser humano é que conseguimos verificá-las — ele fica mais similar um ao outro, ele aproxima a distância que deveria existir entre o particular e o universal, entre o que ele, diminuto como humano, é capaz de ser e fazer com a essência e capacidade mais limítrofe que nossa espécie possui.

Dito isto, é possível entender o efeito que as ideologias causam nos seres humanos: provocam doenças de ordem cognitiva, quiçá até de ordem ontológica. As ideologias são contraídas basicamente por linguagens e semióticas deformantes, que degradam a cognição como um todo (imaginação, linguagem propriamente dita, raciocínio, juízo, emoção, associação, percepção) e evidentemente o caráter. Uma vez “infectados” por tais ideologias degradantes, a estes não vai se permitindo que se atinja as maturidades espiritual, intelectual, psicológica e moral. E o Esquerdismo é uma família ideológica que concatena inúmeros destes patógenos ideológicos que surgiram desde pelo menos o século XVIII; quase todos possuem elementos revolucionários de necessidade de concentração de poder para interferir com a vida dos outros, de estatolatria, de hiperatividade social, de alienação sistêmica, de intolerância ao contraditório e a adversários, de coletivismo obsessivo, de despersonalização, de hábitos gregários, de futurismo, de inversão da realidade, de ausência de autoconsciência moral, de hipocrisia nesciente.

É por isso que, não à toa, quanto mais tipos variados de esquerdistas — cada um em uma ou mais correntes ideológicas heterogêneas e muitas até contraditórias entre si — vão se afundando nessas doenças, mais parecem uma coisa só; mais similares e previsíveis vão ficando; mais universalmente iguais parece cada um deles. Seu linguajar e suas formas de pensar, falar, postar, agir, reagir são padronizadas; seus sistemas de (des)valores e crenças são monótonos; suas falhas de percepção, imaginação, raciocínio, interpretação, juízo, associação são uniformizadas; seus desvios de consciência, caráter, índole e capacidade são congruentes; suas fragmentações, hipocrisias, incoerências e fraquezas são um sistema unívoco. Quando encontro um esquerdista diante de uma situação ou dilema, diante de uma divergência ou conflito, antevejo com alta margem de acerto que posição vai ter, o que vai defender ou atacar, que partido tomará, e que argumentos relativistas usará para rejeitar uma justiça feita (contra si ou contra um dos “seus”) ou para justificar uma injustiça perpetrada (contra um desafeto seu ou um inimigo que pertence aos “outros”), pois seus códigos éticos e morais dependem não de valores de uma axiologia universal, mas sim de quem são os agentes envolvidos: se pertencendo ao que eles chamam de “nós” ou ao que chamam de “eles”.

E voltando ao tema inicial deste ensaio, os previsíveis e coletivos esquerdistas, com seus comportamentos de colméia, rebaixados por suas ideologias em suas dimensões espirituais, intelectuais, lingüísticas, morais e até cognitivas, quiçá ontológicas, acabam virando cada particular num universal simplório, em que cada individualidade se funde numa coletividade repetitivamente enfadonha e tediosamente presumível. É pelo que findou o Esquerdismo: um maquinário simbólico e lingüístico eficaz para transformar homens em bichinhos; um mal que cresceu e que se tornou epidêmico mundo afora, diminuindo as capacidades ontológicas dessas massas às de insetos coletivos, menos similares às abelhas — que produzem mel e própolis — do que aos cupins ou às formigas. E tendo que escolher um destes dois últimos insetos para representar estes homúnculos, fico com a formiga para ter um paralelo nominal com o herói dos quadrinhos e filmes. Então está aí o tema do título: são os reais homens-formigas, mas opostos ao herói e do tipo vermelho, em que basta se conhecer um deles e praticamente se conhecerá todas formigas vermelhas mais, o formigueiro todo, todos os formigueiros do mundo, com quase nenhuma incerteza ou surpresa…

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C. S. Xavier
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Written by C. S. Xavier

No exercício contínuo da mais perene atividade entre os mortais.

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