De Hobbes E Spinoza Para Nossos Ditadores

C. S. Xavier
4 min readApr 28, 2024
Hobbes e Spinoza e os Tiranos

O Estado sempre tendeu a crescer, mas dois grandes pioneiros propagandistas e apologistas responsáveis por isso foram o matemático inglês Thomas Hobbes (1588–1679) em seu livro “Leviatã ou Matéria, Palavra e Poder de um Governo Eclesiástico e Civil”, de (1651), e o polidor de lentes holandês Baruch Espinoza (1632–1677), no seu “Tratado Teológico-Político”, de (1670).

Ambos fizeram uma alteração do trinômio do poder dos monarcas medievais (Deus autor do Poder, a multidão que atribui o Poder, os governantes que exercem o Poder), retirando o primeiro elemento “Deus autor do Poder” e entregando a justificativa do Poder a um conceito informe chamado “soberania popular”, quando o Poder deixou de ser limitado pelas regras de Deus e passou a ser limitado por uma abstração.

“Entrego meu direito de governar-me a esse homem ou a essa assembleia, sob a condição de que também abandones o teu… Assim, conclui, a multidão tornou-se uma só pessoa que se chama cidade ou república. Tal é a origem desse Leviatã ou Deus terrestre ao qual devemos toda paz e toda segurança”.

Thomas Hobbes

“Cada sujeito tendo se tornado, pelas instituição da República, autor de todas as ações e julgamentos do soberano instituído, este não lesa, não importa o que faça, nenhum dos sujeitos, e nunca pode ser acusado de injustiça por nenhum deles. Pois, agindo apenas por mandato, que razão teriam de se queixar os que lhe confiaram esse mandato?
Por essa instituição da República, cada particular é o autor de tudo o que faz o Soberano: consequentemente, quem afirma que o soberano o prejudica está atacando atos dos quais ele próprio é o autor, e não deve acusar ninguém a não ser ele”.

Thomas Hobbes

“Não importa o que o soberano representante faça a um sujeito, sob qualquer pretexto que seja, isso jamais poderia ser dito uma injustiça ou um dano; pois cada sujeito é o autor de cada um dos atos do soberano”.

Thomas Hobbes

“Nenhuma lei pode ser injusta. A Lei é feita pelo poder soberano, e tudo o que é feito por esse poder é aceito (de antemão) por cada um dos membros do povo; e o que cada homem em particular quis como tal, nenhum homem pode dizer que é injusto”.

Thomas Hobbes

“Quer o poder supremo pertença a um só, seja partilhado entre alguns ou comum a todos, é certo que àquele que o detém pertence também o direito soberano de exigir tudo o que quer… O súdito é obrigado a uma obediência absoluta enquanto o Rei, os Nobres ou o Povo conservarem o soberano poder que a transferência de direitos lhes conferiu”.

Espinoza

“O soberano, ao qual por direito tudo é permitido, não pode infringir o direito dos súditos”.

Espinoza

“Somos obrigados a executar absolutamente tudo o que ordena o soberano, mesmo que suas ordens sejam as mais absurdas do mundo”.

Espinoza

“Todos tiveram, por um pacto expresso ou tácito, que conferir ao soberano todo o poder que tinham de manter-se, isto é, todo o seu direito natural. Com efeito, se quisessem conservar para si alguma coisa desse direito, eles deveriam ao mesmo tempo ser capazes de defender-se com segurança; como não o fizeram e não podiam fazê-lo sem que houvesse divisão e, portanto, destruição do comando, eles submeteram-se à vontade do poder soberano, “qualquer que ela fosse”.”

Espinoza

E são esses dois uns dos primeiros grandes arautos, ainda do século XVII, que depositaram, em nome da abstração “soberania popular” como substituta da irradiação do poder (e deveres) oriundos de Deus, uma nova fórmula de poder que o deixa com parcas limitações e com uma capacidade de expansão infindável no colo dos comandantes racionalistas, anticristãos ou ateus, que arrogaram a França milenar para si durante a Revolução Francesa para a moldarem e deformarem conforme suas aberrações e distopias, e, no século XX, nas patas com garras pretas, marrons, vermelhas que assassinaram dezenas de milhões de pessoas (de seus próprios povos) e que pariram, no Brasil e em inúmeros países mundo afora, de 2020 em diante, tiranias pseudo-científicas, cínicas e hipócritas através de uma pandemia eivada de mentiras, fraudes, manipulações e vícios, contando com hordas de ditadores internacionais e nacionais, compostos por políticos, governantes, juízes, tecnocratas, especialistas e policiais, federais, estaduais e municipais, que solaparam direitos, garantias, constituições, leis cometendo várias arbitrariedades em dezenas, quiçá centenas de variados regimes de governo dito democráticos sendo materializados nos soberanos de Hobbes e Espinoza.

--

--

C. S. Xavier

No exercício contínuo da mais perene atividade entre os mortais.