Contra O Olimpo Político
Há um império burocrático (político e administrativo), alheio ao povo, que se instalou no Brasil há eras e que cresce indefinidamente o seu poder, tamanho e distância. Se escalarmos o Monte Olimpo de Banânia, encontraremos um símbolo da excrescência que se elevou às alturas do nosso Brasil real e que transformou a nobre Política — a área da Filosofia pós-socrática que estuda as cidades, a melhor administração delas, as leis e a ética social — em um “Estado Patrimonial” constituído por um “Estamento Burocrático” brasileiro, histórico, constantemente mutante e crescentemente torpe e imoral.
O Estado Patrimonial é aquele em que os dirigentes investidos de poderes, sejam eles agentes políticos ou públicos, tomam o patrimônio público como se fora parte de seus próprios patrimônios privados, usando-os para extrair vantagens pessoais, familiares e públicas, como também usurpando do seu poder para subjugar e se elevar perante os seus adversários ou a qualquer um da massa que o sustenta economicamente e paga por suas prerrogativas públicas, transformadas e absorvidas como privilégios.
No livro “Os Donos do Poder”, o jurista, sociólogo, historiador e cientista político gaúcho, Raymundo Faoro (1925–2003), explica as origens da formação do poder político brasileiro, iniciando a sua pesquisa, na formação do Estado Patrimonial de Portugal.
O autor defende a tese de que, diferentemente da Europa Central, Portugal parece ter passado direto da fragmentação do antigo e colossal Império Romano para uma Monarquia Absolutista. Conservando, por alguns séculos, as remanescências políticas e jurídicas (politicamente fundamentado na constituição de Diocleciano (285–305) e juridicamente derivado das leis de Justiniano (527–565) com as codificações emanadas até o Ocidente Ibérico) e administrativas do já inexistente Império Romano. Somando a isso, há o componente herdado de glórias e reconquistas territoriais dos séculos de luta contra os muçulmanos que invadiram a península Ibérica e que, por fim, desaguaram no Reino de Portugal, uma combinação de Absolutismo com Funcionalismo, que praticamente não passa pelo Feudalismo.
“O estamento político (…) constitui sempre uma comunidade, embora amorfa: os seus membros pensam e agem conscientes de pertencer a um mesmo grupo, a um círculo elevado, qualificado para o exercício do poder. A situação estamental, a marca do indivíduo que aspira aos privilégios do grupo, se fixa no prestígio da camada, na honra social que ela infunde sobre toda a sociedade. Esta consideração social apura, filtra e sublima um modo ou estilo de vida: reconhece, como próprias, certas maneiras de educação e projeta prestígio sobre a pessoa que a ele pertence; não raro hereditariamente. Para incorporar-se a ele, não há a distinção entre o rico e o pobre, o proprietário e o homem sem bens. Ao contrário da classe, no estamento não vinga a igualdade das pessoas — o estamento é, na realidade, um grupo de membros cuja elevação se calca na desigualdade social. À abertura das classes, para as quais basta a dotação de meios econômicos ou de habilitações profissionais para integrá-las, opõe-se a tendência à exclusão dos recém-vindos, dos “parvenus”, não raro aceitos na camada senão depois de mais de uma geração. A entrada no estamento depende de qualidades que se impõem, que se cunham na personalidade, estilizando-lhe o perfil. Os estamentos florescem, de modo natural, nas sociedades em que o mercado não domina toda a economia, a sociedade feudal ou patrimonial. Não obstante, na sociedade capitalista, os estamentos permanecem, residualmente, em virtude de certa distinção econômica mundial, sobretudo nas nações não integralmente assimiladas ao processo de vanguarda”.
Raymundo Faoro
Desta forma, nasce um regime em que o monarca acumula um patrimônio vasto de riquezas e terras — com grande parte delas ganhas através destas batalhas de recuperação de territórios invadidos por sarracenos islâmicos, conferindo-lhe honras, carisma, fama, confiança, autoridade e credibilidade, tanto à nobreza e clero quanto para o povo —, em que o monarca as usa constantemente misturando os bens privados para produzir finalidades públicas, e os bens de ordem pública com interesses privados, com a ajuda de casas senhoriais, que adquiriram funções de auxílio ao rei e de poder, em troca de cargos, prestígio, regalias e vantagens materiais.
Deste amálgama se formaria um Estado Patrimonial de Estamento, que manda, governa, dirige, orienta e determina — formal e informalmente — os rumos da economia, da atividades comerciais e das expressões sociais, de um povo tolhido, controlado e subserviente ao Rei e aos seus braços de poder. O Estado assim fica centrado e dependente da figura, do caráter e das competências do rei e de seus assessores delegados: se virtuosos, toda a nação ganha e o povo prospera; se viciosos, toda a nação perde e o povo padece.
“O estamento supõe distância social e se esforça pela conquista de vantagens materiais e espirituais exclusivas. As convenções, e não a ordem legal, determinam as sanções para a desqualificação estamental, bem como asseguram privilégios materiais e de maneiras. O fechamento da comunidade leva à apropriação de oportunidades econômicas, que desembocam, no ponto extremo, nos monopólios de atividades lucrativas e de cargos públicos. Com isso, as convenções, os estilos de vida incidem sobre o mercado, impedindo-o de expandir sua plena virtualidade de negar distinções pessoais. Regras jurídicas, não raro, enrijecem as convenções, restringindo a economia livre, em favor de quistos de consumo qualificado, exigido pelo modo de vida. De outro lado, a estabilidade econômica favorece a sociedade de estamentos, assim como as transformações bruscas, da técnica ou das relações de interesses, os enfraquecem”.
Raymundo Faoro
O Estamento Patrimonial, em sua origem, começa a tomar esta forma de caráter ministerial — que orbita o rei, e que, por sua vez, garante esta classe estamental cercando-a de regalias, prestígio e autoridade — , que começa a delinear a separação entre a coisa pública e os bens do príncipe, em que o Reino não é mais de domínio do Rei, mas o soberano ainda é o dominante da nação; e em que os “Delegados do Rei”, com direitos diferenciados derivados da pertença ao Estamento Burocrático nascente, não representam mais suas casas, mas sim seu país.
Evolui, desta forma, a edificação crescente — e cada vez mais abrangente — de um Estado Patrimonial, um sistema burocrata e fechado, quase adiabático, em que a troca de benefícios entre as camadas do estamento é a base da atividade pública (política, administrativa, legislativa, judiciária e econômica), e que notoriamente está destacado da maioria que não está nesta esfera de poder, de vantagens e de regalias.
Destarte, se gera uma espécie de classe, amorfa de categorias sociais e descaracterizada de conceitos genuinamente sociológicos. Uma casta pautada majoritariamente por suas convenções e interesses internos, às vezes acima das próprias leis gerais explícitas — modificando-as, distorcendo-as, relativizando-as, ou mesmo ignorando-as para atender aos interesses próprios da comunidade estamental política estabelecida —, se pautando mais em suas regras e conveniências internas e esotéricas que nas normas jurídicas universais.
O Estamento Burocrático é a forma última de uma corporação histórica, de vida própria, mutável conforme as épocas e governos brasileiros, e estruturada numa comunidade político-administrativa que controla os mais altos escalões dos Três Poderes, direta ou indiretamente, com um núcleo de decisões alheio ao povo, e que impõe os seus interesses ou vontades sobre todos os demais, contaminados por todos os vícios oriundos do Estado Patrimonial, e que suas ações e decisões podem, hoje, ser tanto oriundos deles, quanto oriundos de blocos globalistas ou supranacionais, maiores e mais poderosos — politicamente e economicamente — que eles próprios, e que, como titereiros ocultos, interferem diretamente na política nacional, transformando nossos políticos, poderes republicanos, órgãos e instituições, em postos avançados para chancelar suas pautas e projetos de uma agenda que não é para nossa pátria e nem para os anseios da esmagadora maioria dos brasileiros.
Desta classe, está incubada a formação do Poder estabelecido fulcralmente no Brasil, com várias modificações — atenuações ou agravamentos ao longo dos séculos e variáveis de poder — desde a Colônia até a República e que, conforme as pessoas vão desprezando a fé e moral cristãs, conforme os homens começam a se distanciar da alta cultura, e conforme infindáveis ideologias e movimentos revolucionários começam a se proliferarem e ganharem força (fundamentalmente após o enfadonho golpe da República), a ética política, os bons costumes, a deturpação dos valores, a decadência intelectual, os líderes populistas e as mazelas sociais vão tomando formas cada vez mais vis e degradadas.
Logo a política fica refletida e contida na formação de um Estamento Burocrático secular, e crescentemente maligno, centrado num poder político administrativo gigantesco, voraz, ganancioso, corporativista e parasitário, que se projeta de cima para baixo, delineando toda uma sociedade à luz de suas vontades, necessidades e ambições internas, um establishment político, administrativo e burocracial, reforçado e agravado pela hegemonia cultural esquerdista no Brasil de décadas (que tem como cerne, nas inúmeras ideologias existentes dentro do Espetro Político das Esquerdas, atribuir e centralizar o poder, lideranças e soluções nas mãos de governos e políticos, na estrutura estatal, que só faz os indivíduos ficarem mais diminutos, inermes, dependentes e reféns da classe política e do Estado), cada vez mais deslocado do povo (mesmo sempre falando por ele), da verdade, da competência e da realidade daqueles que os elegem (ou que meramente servem para depositar votos em urnas, que quando eletrônicas, são inauditáveis e irrastreáveis os sufrágios). Com os eleitores sendo diligentemente e invariavelmente ludibriados pelas promessas e retóricas dos agentes políticos, enquanto vão alimentando este ciclo vicioso de poder, ao sustentarem estas corjas políticas e administrativas, na mesma medida em que vão sendo sistematicamente desprezados, sobrecarregados e subjugados.
O professor Gabriel Cohn estrutura o Estamento Burocrático da seguinte forma:
“O estamento sem mais seria apenas a face social da constituição de um grupo aglutinado em torno de específica concepção exclusiva de honra. A burocracia sem mais seria mero aparato de poder controlado pelo mandante, conquanto indispensável à gestão. A combinação das duas coisas cria um ente de certo modo monstruoso, que ao mesmo tempo bloqueia a organização do poder central e a da sociedade a ele submetida. O estamento burocrático atua, fundamentalmente, no interesse da sua perpetuação; mas, sendo ele próprio ente político, sua ação se volta para assegurar o padrão de poder central no qual está incrustado”.
Gabriel Cohn
Depois daquela escalada sugerida no início, após atingir o coração deste Monte Olimpo artificial, cerne do Estamento Burocrático presente, encontraremos, neste topo, as cúpulas da Administração Pública Federal, Distrital, Estadual e Municipal; os círculos mais altos e prepotentes do Poder Judiciário; o Poder Legislativo dos “Pratos Virados” (um para o outro) e fechando-se como um caldeirão de imbecilidades, insanidades e arbitrariedades do Congresso Nacional, fundamentado na incompetência, arrogância, corrupção, mentira, hipocrisia, falsidade, alienação e esbanjamento estratosféricos; e, além destes elementos, o material fundamental de qualquer Estamento Burocrático: todas as corjas traidoras de uma nação, hoje constituídas das classes empresarial, midiática e corporativa, que viraram meretrizes, comparsas e capangas que oferendam mentiras, desinformações, propinas e ativismo a estes “deuses” — inaptos, corruptos, soberbos e parasitas — deste Estado Patrimonial e Estamento Burocrático brasileiro, em que quase todos se consideram inatingíveis e ilimitados em canalhice.
Todos estes disformes agentes políticos e suas criaturas empossadas nos Três Poderes, se elevaram tanto e se destacaram tanto da sociedade, da realidade, da ética e da moral, que se acham assim, deuses inatingíveis e onipotentes, desafiando sistematicamente a paciência, a coerência, a inteligência, a força, as necessidades e os anseios do mero, instrumental e descartável povo…
E assim, no topo desta escalada, os milhões de alpinistas amadores que habitavam os pântanos ao redor desta montanha artificial de excrementos que se elevou continuamente — com avalanches constante de suas atividades terminando nos vales em todo o entorno —, diante de tal revelação e visão infernal, devem arrancar todos os que fazem parte deste malévolo sistema e monstro, burocrático e político, e neutralizar todo o mal de tudo que se uniu a este Monte Olimpo putrefato com seus dinheiros, cumplicidades e elos fechados da antiética, da corrupção e das mentiras.
Na visão destes impostores somos um povo, que não passamos de pessoas distantes, inofensivas e insignificantes… Aqui embaixo… Nos vales escuros e abandonados do Brasil real… Onde freqüentemente somos acertados por seus dardos, cagantes e impositivos — como se fossem Zeus jogando raios em reles mortais como nós —, por suas imbecilidades, suas cafajestices, suas ousadias, suas maldades, suas arrogâncias, seus corporativismos, suas inaptidões, seus lunatismos e seus crimes.
Não há de suportar mais, eles sempre achando que nós, os desprezíveis seres do povo — que pagam por tudo que existe em seus suntuosos palácios regulatórios — devemos persistir em amargar por mais de seus achaques, indolências, transgressões e descasos. São os empreendedores (que geram riquezas, empregos e valores) e os trabalhadores (que suam, que produzem, que prestam serviços e que se esforçam para prosperar) que pagam por todas as regalias, caprichos, prerrogativas e privilégios que os agentes políticos e públicos possuem; que pagam para eles viverem num mundinho mágico, protegido e burocrático, naquele Monte Olimpo da baixaria a que pertencem e do qual se alimentam, daquilo do que são e do que vivem, fazendo o que querem, como querem e quando querem.
“Querem o poder, esses incompetentes, e antes de mais nada o trampolim do poder: muito dinheiro!
Vede como trepam, esses ágeis macacos! Para ganhar dos demais, trepam uns sobre os outros e acabam se arrastando todos juntos para o lamaçal e para o abismo.
Todos querem ascender ao trono”.
Eles, no auge de suas artificialidades colossais, permanecem pensando que nós, cidadãos brasileiros, devamos ser eternamente servos deles, e não os responsáveis por restabelecer a ordem natural das coisas: nós sermos os mestres, representados e empregadores deles; e eles serem nossos servos, representantes e empregados. Aqueles que devem obedecer à vontade nossa — que os pagamos —, sob o julgamento da verdade e da bondade dos olhos nossos e do juízo de Quem tudo sabe e tudo alcança, de Deus.
Temos que sair daqui, das terras baixas e mortais da realidade, que sustentam seus modos de vida e regalias, destes pântanos que absorvem sistematicamente todos os seus dejetos da indecência, da violência, do relativismo, do roubo imoral através da tributação esfoliante, dos desserviços públicos em que vivemos e sofremos, por irresponsáveis decisões destes políticos e burocratas habitantes do virtual Monte Olimpo de excrementos que eles se enfurnaram — estando cada vez mais tão distante de nós e com cada vez menos políticos e agentes públicos que prestam —, e temos que chutarmos, monte abaixo, cada um deles que se corrompeu e que maculou, ainda mais, a nossa política e sistema tripartite de poderes, além de cada um que ajudou a construir, aumentar e se tornar peça importante deste Estamento Burocrático tirânico e titânico formado no Brasil, a prejuízo da população, ao longo dos séculos e, aparentemente, nunca tão pernicioso como hoje.
E depois de conquistarmos de vez este pútrido Monte Olimpo fortificado deles e jogarmos na lixeira estes demônios que se passaram por deuses — um a um —, e fechar a tampa do acesso político e público para que todos os vis, mentirosos e injustos jamais saiam da mediocridade e insignificância de suas vidas privadas (ou mesmo, se criminosos, da cadeia); há de purificarmos — sem quebrarmos fisicamente nada, nenhum tijolo ou vidraça, de forma proposital e desnecessária — esta elevação simbólica do Estamento Burocrático, da vergonha, da suntuosidade, e que foi construído por eles e por seus cúmplices ao longo de décadas (de geração em geração, apenas mudando as peças, o tamanho, a desfaçatez e a ousadia de seus piores membros e desgovernos), mas que, também, foi erguido e é subsidiado com os nossos esforços, nossas riquezas, nossas tristezas, nossas agonias e o nosso dinheiro. Um lugar e um estado de poder, onde repousa toda esta máquina destrutiva, decadente e parasita, deste establishment brasileiro que destrói a quem se opõe a ele, que absorve os mais fracos e que sempre cresce em poder, maldade, incompetência, soberba, crime e traição de sua gente, de seus representados e de sua nação (que há eras, nem de longe faz parte das preocupações políticas deste Leviatã poderoso) deve ruir miseravelmente.
É dever dos justos e indignados destruir este Estamento Burocrático que se apropriou e degradou o poder — que deveria ser constituído para propósitos benéficos, e que foram desviados — e que elevou às alturas de um simpósio de falsos demiurgos, os servos que pensam ser deuses intocáveis e inabaláveis. É obrigatório trazer para o nosso vale, seus membros e esferas de poder para o devido julgamento engasgado por gerações.
Estas aves carniceiras invertidas — que ao invés de consumirem carniças, vivem em produzi-las — devem ter finalmente suas asas aparadas e suas garras cortadas. Os crápulas não devem ficar mais nas alturas, mas perto de nós, cá conosco, num cercadinho bem visível e próximo, bem distribuído em todos os lugares desta vasta planície e com apenas um poder diminuto — mas meramente suficiente —, de modo a alterarem para melhor e prudentemente, cada hectare deste vasto país… De tal forma que possamos assim, diluir este poder concentrado e olhar, vigiar, limitar e acompanhar bem de perto, o trabalho que eles são pagos por nós, para nos servir e nos representar bem, e com solicitude, agradecimento mútuo e humildade em fazer.
“Assim procedem estes políticos, enquanto se presta pouca atenção a suas doutrinas; mas, se lhes pergunta pelo verdadeiro sentido de suas palavras e pela finalidade direta de seus princípios, então recorrem aos equívocos e se lançam às escapatórias”.
Não precisamos fazer nada mais que demover estes membros podres da classe política brasileira e estraçalhar este Estamento Burocrático gigantesco, distante, crescente, debilitante e vampiresco que se formou ali; sem violência ou mortes desnecessárias. Temos que fazer uma desobediência civil marcante: não atribuir ou reconhecer mais autoridade alguma e nem prestar respeito algum aos vermes que se instalaram no poder, além de exigir, como senhores destes servos que somos, que os canalhas e incompetentes não trabalhem mais para nós; nunca mais!
Façamos como a população ucraniana fez com sua própria classe política: jogando os nossos próprios imundos políticos, simbolicamente e fisicamente, nas lixeiras das ruas e no lixo de nossa História.
“Vexilla regis prodeunt inferni”.
Nos tempos atuais, os estandartes do rei do inferno (Estado) é que avançam contra o povo, parafraseando o verso citado por Dante no Último Círculo de seu Inferno. Ali o poeta utilizou-se das belas palavras do hino “Vexilla Regis” para descrever os horrores que presenciava. O hino “Os Estandartes do Rei” foi composto por São Venâncio Fortunato (530–609), bispo de Poitiers, a pedido da rainha-mãe Santa Radegunda (520–587), que após a morte de seu marido e rei, Clotário I (497–561), ela fundou o mosteiro de Santa Cruz e, assim, encomendou esta belíssima canção ao santo e talentoso poeta, para a translação da relíquia da Verdadeira Cruz até o altar-mor, um presente que recebera do imperador de Bizâncio Justino II e de sua esposa a imperatriz Sofia por seu luto.
Mas aqui, no Brasil, as insígnias que avançam são outras, tão perniciosas quanto às de Dante…
Comecemos com uma manifestação no centro máximo do Poder Brasileiro — Brasília —, nas sedes dos Poderes, com comparecimento maciço, contínuo e fleumático do povo; aluguemos duas caçambas grandes de lixo (por exemplo as de 6 m³ de capacidade); coloquemos grandes faixas nelas: “Congresso Nacional”, “Supremo Tribunal Federal” (os que mais estão boicotando o povo em prol de si), em cada caçamba de lixo; e instalemos um telão gigante (ou telões em demais locais, dependendo das verbas), em frente ao Congresso Nacional (mas que também sirva para o STF, caso só tenha apenas um telão).
Neste telão (ou telões) passaremos em modo contínuo e repetitivo (“loop”), durante dias, ou semanas de manifestação (com o povo sempre estando lá, trocando os membros conforme os compromissos de cada cidadão, sem arredar pé), vídeos de políticos ucranianos sendo arremessados em caçambas de lixo pelo seu próprio povo. Sem parar, e 24 horas por dia: políticos sendo jogados literalmente no lixo! Com muitas músicas de protesto, mensagens cívicas e Hino Nacional cantado por todos os presentes (ao raiar do dia, e no fim da tarde).
Esta mensagem ficaria bem dada nesta forma contínua e irreversível, ficando lá até os covardes políticos e membros deste Estamento Burocrático que se apoderou do Brasil e os que se julgam deuses, serem demitidos. Com este desprezo, desobediência e escárnio contínuo e maciço, eles poderão ter uma mostra, bem visual, do que realmente são, do que de fato somos, do que pensamos dele, e de uma possível realidade temerosa que os esperam, se continuarem com esta infâmia contra nós.