A Jihad Que Antecede As Cruzadas
Muito se fala sobre as Cruzadas, que foram expedições majoritariamente cristãs, organizadas pela Igreja Católica Apostólica Romana (e as Igrejas Ortodoxas Orientais cristãs) a partir de 1095 d.C. (e muitas outras que levam este nome de “Cruzadas”, que foram organizadas pela nobreza européia), no intuito de deter e de combater a expansão e invasão islâmicas na Europa e em Jerusalém, retomando territórios há muito conquistados pelos muçulmanos.
Participaram da Primeira Cruzada — realmente organizada — Godofredo de Bulhões (Bouillon), Duque da Baixa Lorena; Raimundo IV Saint-Gilles, Conde de Toulouse; Balduíno I de Constantinopla, Conde de Flandres; os normandos Boemundo de Tarento (Príncipe de Tarento [título retroativo]) e Tancredo da Galiléia (Príncipe da Galiléia); além de Hugo I de Vermandois, Conde de Vermandois e irmão do Rei Felipe I da França. Do Papa Urbano II, partiu Ademar de Monteil, Bispo de Puy.
Depois de muitos combates no percurso pela Ásia Menor (Turquia), os cruzados chegaram em Jerusalém, em 16 de junho de 1099 d.C., quando o cerco começou. Após a conquista de Jerusalém, em 15 de julho de 1099 d.C., Godofredo de Bulhões declinou o título de rei, dizendo não querer receber uma coroa de ouro no mesmo local onde Cristo tinha sido martirizado com uma coroa de espinhos. As palavras de louvor e honra aos vitoriosos cruzados que retornariam para casa depois de anos, escritas em setembro de 1099 d.C., na Laodicéia, pelo Senhor de Bulhões para os reinos europeus, após a conquista de Jerusalém, são de uma bravura e devoção contagiantes:
“Conclamamos a todos os senhores da Igreja Católica de Cristo e de toda a Igreja Latina a exultarem, com a admirável bravura e devoção de vossos irmãos.
Com a gloriosa e tão desejável recompensa de Deus onipotente, e com a muito e devotamente esperada remissão de nossos pecados pela graça de Deus.
E rogamos que Ele faça com que todos vós — bispos, clero e monges de vida devota, e todo o laicato — se sentem à mão direita de Deus, que vive e reina por todos os séculos dos séculos. E vos pedimos e rogamos em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que permanece sempre conosco e nos livra de todas as tribulações, que cuidem bem de nossos irmãos que a vós retornam, fazendo-lhes gentilezas e pagando suas dívidas, para que Deus os recompense e absolva de todos os vossos pecados e vos conceda uma participação nas bênçãos que nós e eles temos merecido diante do Senhor. Amém”.Godofredo de Bulhões
As Cruzadas — iniciadas no final do século XI — duraram até meados do século XIII, envolvendo basicamente 16 grandes campanhas de reconquista contra todo o domínio expansionista sob o signo do Islã (a religião política e beligerante que, desde quando o Maomé (571–632) era vivo, não parou de atacar as cidades próximas); 8 delas, as principais para libertarem as Cidades Santas tomadas pelos maometanos. A Jihad Islâmica começa desde meados de 620 d.C., na Península Arábica (Medina e Meca), invade Ásia, Europa e África quase imediatamente (anos e décadas seguintes), se expande de forma violenta, escravizante e dominante, e se prolonga e se espalha pelo mundo até os dias de hoje.
Hoje em dia, inúmeras narrativas anticatólicas e anticristãs permeiam o imaginário popular, através de obras literárias de ficção, ambientadas neste período, ou de trabalhos historiográficos que mesclam fatos históricos com mitos inventados, feitos por inimigos da Igreja, do Ocidente ou por proselitistas e propagandistas islâmicos.
Estas hipérboles, estórias, lendas e mitos (misturadas com algumas verdades) são as fontes principais da indústria do entretenimento (cinema, séries, teatros, novelas, desenhos, quadrinhos, jogos de videogame), dos documentários e exposições jornalísticas, e inclusive no sistema educacional e no debate acadêmico.
Toda esta cultura cheia de invencionismos, fantasias, calúnias e exageros (muitos deles contrários à verdade histórica), é responsável por invadir o horizonte de conhecimento das pessoas (inclusive intelectuais), com esta visão errônea deste período. Ela é culpada pela dominância nos meios acadêmicos influenciadores, na indústria do entretenimento e no mainstream midiático, como uma verdade histórica, repedida ad aeternum, dos cruzados fazendo invariavelmente as vezes como os “vilões invasores”; e é responsável por povoar o universo imaginário das pessoas do mundo inteiro, como os muçulmanos sendo os injustiçados e invadidos. Isto leva a todos para longe da verdade, sobre o que foi realmente este bravo e essencial salvaguardo da Civilização Ocidental.
O teólogo, Mateus de Castro, no seu site “O Papista”, escreve um artigo magistral denominado “Cruzadas: Mitos e Verdades”, desmistificando de forma precisa e detalhada as principais besteiras, calúnias, mentiras, auxeses e distorções sobre os eventos das Cruzadas, com excelentes indicações bibliográficas a serem lidas e divulgadas.
Constantemente estes contos tomados como verdade, vêm com conotação negativa à Igreja Católica e são anticristãs nas suas essências; apresentando estas expedições bélicas como formadas basicamente por hipócritas, sanguinários, avarentos e selvagens cristãos; indicando estes como sendo os invasores dos territórios (que eram deles). Sendo que foram os cristãos que começaram a ser invadidos, tomados, espoliados e conquistados por exércitos muçulmanos, a partir da morte de Maomé, em 632 d.C. em Medina, na Arábia Saudita.
Tais distorções e mentiras podem ser vistas na obra de John Louis Esposito, “Islam: the Straight Path” (tradução livre: Islã: O Caminho Reto), em passagens como estas:
“Cinco séculos de coexistência pacífica entre muçulmanos e cristãos foram levados ao fim por eventos políticos e uma jogada de poder imperial-papal, que conduziu a uma série de longos-séculos as chamadas “guerras santas” que opôs a cristandade contra o Islã e deixou um período duradouro legado de mal-entendidos e desconfiança”.
John Louis Esposito (grifos meus)
Esta empulhação não está apenas no Brasil, na América e na Europa. Num livro de uso comum escolar australiano de Geografia chamado “Humanities Alive 2” (tradução livre: Humanidades Vivas 2), sobre este tema das Cruzadas, há uma comparação torpe evidentemente com conteúdo vil, anticristão e anti-ocidental, que considera ataques terroristas aos Estados Unidos equivalente a exércitos organizados tentando reconquistar terras tomadas décadas ou séculos antes por invasores islâmicos:
“Aqueles que destruíram o World Trade Center são considerados terroristas. Pode ser justo dizer que os cruzados que atacaram os habitantes muçulmanos de Jerusalém também eram terroristas?”
John Andrews, Anne Dempster e Ken Nailon
Inúmeras destas narrativas anticatólicas sobre as Cruzadas, começam a surgir em meados do século XVI. Elas colocam os cruzados, os templários e demais cavaleiros de ordens cristãs ou da nobreza européia, num mesmo saco moral, como se fossem todos os vilões da História, e sistematicamente idealizando os muçulmanos, sarracenos ou mouros — todos invasores islâmicos, tanto do Oriente Médio e Ásia Menor quanto da África setentrional, Ásia Maior e de praticamente quase toda a Europa Ocidental, por décadas ou séculos a fio —, como sendo as “vítimas” das Cruzadas.
Depois da morte de Maomé, em 632 d.C., até a Primeira Cruzada, em 1095 d.C., se passaram 463 anos para a resposta organizada e ofensiva contra os costumazes invasores muçulmanos — em grande escala formada por exércitos de cristãos europeus — chegar. Os primeiros redutos a caírem (de cristãos e judeus), foram na própria Arábia; depois na região da Mesopotâmia, em 633 d.C.; seguindo então de ataques no leste do Império Romano Bizantino e no oeste do Império Persa (um dos primeiros a sucumbir); lugares onde o Islamismo começou a sua expansão bélica e violenta. Todo o mundo mediterrâneo ao redor da Europa e das suas partes asiáticas e africanas, eram predominantemente cristãos (inclusive Ásia Menor e Oriente Médio).
Até o início das Cruzadas, foram mais de quatro séculos de ataques militares desorganizados (e ocasionalmente organizados) dos muçulmanos, quase todos sangrentos, feitos por países muçulmanos principalmente, em grande parte por forças do mar. Além do domínio territorial e religioso, no universo das intenções materiais, as mais comuns eram o saque de ouro, prata, pedras preciosas e escravos. Tudo isso acompanhado da destruição de igrejas, conventos e santuários dos infiéis (judeus, cristãos e demais credos), com a sistêmica propagação do islamismo político-religioso em todo os países da Europa, África e Ásia Menor a partir de suas bases nos mares Mediterrâneo e Adriático.
Se for analisada a cronologia de eventos principais ocorridos anteriores à Primeira Cruzada, após o nascimento do Islã (final do século VI e início do século VII), principalmente após a morte de Maomé, em 632 d.C., até 1095 d.C., perceber-se-á facilmente quem são os invasores (que espoliaram, escravizaram e dominaram), atacantes motivados pela guerra injusta e ofensiva; e quem são os defensores (que se defenderam, contratacaram e reconquistaram), protetores motivados pela guerra justa e defensiva.
Conforme a seguinte lista cronológica de eventos baseada no artigo “The Crusades In Context” (tradução livre: As Cruzadas em Contexto), de 2007, do Dr. Paul Francis Lester Stenhouse, Sc.M. Ph.D. pela Universidade Católica Australiana, que foi o primeiro a traduzir do Árabe para o Inglês, a obra do século XVI “Futuh al-Habasha: The Conquest of Abyssinia”, de Sihab ad-Din Ahmad bin Abd al-Qader bin Salem bin Utman.
Século VII (d.C.)
632: Maomé morre em 8 de junho em Medina.
633: Mesopotâmia cai face à invasão muçulmana. Segue-se a queda de todo o Império Persa para as tribos árabes maometanas, começando pela derrota na Batalha de Cadésia (ou Batalha de al-Qadisiyya), em 636, até a fuga do Imperador Yazdegerd III, para os confins do Império Sassânida, em Sogdiana, no atual Uzbequistão, onde foi assassinado em 651.
635: Damasco cai.
638: Jerusalém é capitulada pelos muçulmanos do Califa Omar ibn al-Khattab.
643: Alexandria cai, decretando assim a morte de mais de mil anos de civilização helênica que enriqueceu todo o Oriente Próximo com suas bolsas de estudos e cultura.
648: Chipre é atacado.
649: Chipre cai.
653: Rodes cai.
673: Constantinopla é atacada.
698: Todo o Norte da África é tomado pelos muçulmanos. São apagados os vestígios de cultura romana e a Hispânia (atual Espanha) é a próxima nos planos da Jihad.
Século VIII (d.C.)
711: Hispânia (dentro do Império Visigodo) é atacada por muçulmanos de Tânger que navegaram pelos 13 km de largura do Estreito de Gibraltar até Celta (sul da Espanha). O Reino Visigodo (Portugal central e meridional, quase toda a Espanha e parte ocidental da França) colapsa.
717: Os muçulmanos do Califa Solimão ibne Abdal Malique atacam Constantinopla de novo e são repelidos pelo Imperador bizantino, Leão III.
720: Narbona (sudoeste da França) cai.
721: Saragoça cai (nordeste da Espanha). Avistamentos de muçulmanos na França.
732: Bordéus (Bordeaux no sudoeste da França) é atacada e as suas igrejas são queimadas por Abdul Rahman Al Ghafiqi. Uma basílica fora das muralhas de Poitiers foi destruída e Abdul al-Rahman dirigiu-se para Tours que encerrava o corpo de São Martinho de Tours (316–397), apóstolo e santo padroeiro dos francos. Carlos Martel e o seu exército detêm os muçulmanos (destaque para Batalha de Poitiers contra o exército do Califado de Córdova, na Espanha que já tinha sido tomada pelos muçulmanos) e mata Abdul Rahman Al Ghafiqi, em outubro de 732. Os ataques na França continuam.
734: Avignon (França austral) capturada por uma expedição muçulmana.
743: Lyon (centro-leste da França) é saqueada.
759: Os árabes são expulsos de Narbona (depois de 39 anos sob o domínio islâmico). A Itália (região meridional) será a próxima nas guerras, saques e invasões muçulmanas do século seguinte.
Século IX (d.C.)
800: Começam as incursões muçulmanas na península itálica. As ilhas de Ponza e Ísquia (oeste de Nápoles da Itália) são saqueadas.
813: Civitavecchia, o porto de Roma construído pelo Imperador Trajano (53–117), é saqueado.
826: Creta (a maior ilha grega, ao sul da Grécia) cai perante as forças muçulmanas (que serviu de base para os muçulmanos até 961; quase 150 anos de controle).
827: Os muçulmanos começam a atacar a Sicília (sul da península itálica).
837: Nápoles (oeste da Itália) repele um ataque muçulmano.
838: Marselha (França meridional) saqueada e conquistada.
840: Bari (sudoeste da Itália e banhado pelo mar Adriático e lar das relíquias de São Nicolau de Mira (meados do século III–350), o original “Papai Noel”), caiu para o chefe dos piratas berberes, Khalfun, que depois saqueou o Santuário do Monte de São Miguel Arcanjo.
842: Messina (no sudoeste da Itália) capturada e o estreito de Messina (entre a ilha da Sicília e o continente italiano) controlado pelos muçulmanos.
846: Em 23 de agosto, os esquadrões muçulmanos chegam a Ostia (oeste italiano pertencente à comuna romana), na foz do Tiber, com 73 embarcações, 11 mil guerreiros e cerca de 500 cavaleiros. Eles saqueiam Roma e a Basílica de São Pedro (Vaticano), profanando os túmulos de São Pedro e São Paulo, saqueando também a Basílica de Latrão, juntamente com numerosas outras igrejas e edifícios públicos. O altar sobre o corpo de São Pedro foi destruído em pedaços, e a grande porta da Basílica de São Pedro foi despojada de suas placas de prata. Os habitantes romanos ficaram horrorizados e a cristandade ficou chocada com o desrespeito e barbarismo das forças muçulmanas. Tarento, em Apúlia (sul da Itália), é conquistado pelas forças muçulmanas (ficando dominadas até 880).
849: O exército do Papa Leão IV repele uma frota muçulmana na foz do Tiber. Os sobreviventes foram trazidos para Roma, cuidados e se puseram a trabalhar ajudando a construir o muro Leonino em torno do Vaticano. Quatro metros de espessura, quase treze metros de altura e defendidos por quarenta e quatro torres. A maior parte dessa muralha e as torres redondas, podem ser vistas ainda pelos visitantes do Vaticano. Essas paredes defensivas foram finalizadas e abençoadas pelo Papa Leão IV, em 852.
853–871: A costa italiana desde Bari até Régio da Calábria (Reggio Calabria, toda Itália austral) é controlada pelos sarracenos. Os muçulmanos semeiam o terror no Sul de Itália.
859: Os muçulmanos tomam controle de toda a Messina (leste da Sicília).
870: Malta (ilha no Mediterrâneo central ao sul da Sicília) capturada pelos muçulmanos. Bari foi reconquistada dos muçulmanos pelo Imperador Luís II.
872: O Imperador Luís II (de França) derrota uma frota sarracena em Cápua (oeste italiano).
[Já cansastes? Calma… Ainda faltam 223 anos para a Primeira Cruzada, mas, segundo praticamente toda a mídia, academia e mundo artístico universal, que vem dominando o discurso com estas narrativas anticristãs e anti-ocidentais há séculos, acham que reagir a isso, é o “crime maior”. Continuai acompanhando a cronologia…]
873: As forças muçulmanas devastam Calábria (região do sudoeste da Itália), até o ponto de ser reduzida (conforme citado pelo escritor e educador, Horace Mann, na sua obra “The Lives of the Popes in the Early Middle Ages”) a um estado como o deixado pelo “Grande Dilúvio” e os sarracenos expressaram sua intenção de destruir Roma, a cidade do “Petrulus senex”, o “Velho ineficaz, Pedro”.
876–877: Desde o fim de 876, o Papa João VIII enviou cartas em todas as direções para obter ajuda contra as hostes árabes que estavam devastando o sul da Itália e até ameaçando a própria Roma. Procurou a ajuda para Milão, para a cavalaria de Afonso III das Astúrias (Rei da Galícia na Espanha), para os chefes das armadas bizantinas, e para o Imperador Franco, Carlos II de França, implorando-lhe para ajudar os católicos na Itália.
878: Siracusa (na Sicília) cai após um cerco de 9 meses.
879: O Papa João VIII é obrigado a pagar aos muçulmanos um tributo anual de 25.000 mancusi (cerca de 625.000 dólares americanos modernos), por quase dois anos.
880: Os comandantes bizantinos conseguem uma vitória em Nápoles.
881–921: Os muçulmanos capturam uma fortaleza no rio Garigliano, em Anzio (oeste de Roma) e saqueiam as terras circundantes sem retaliações durante 40 anos.
887: Os exércitos muçulmanos tomam Hysela e Amásia (Turquia), na Asia Menor.
889: Toulon (sul da França) capturada.
Século X (d.C.)
901–902: As frotas muçulmanas saqueiam e destroem Demétrias (Vólos), na Tessália, Grécia central.
903: O Papa Bento IV, atende ao pedido de ajuda contra os sarracenos do bispo de Amásia, e o recebe gentilmente dando-lhe uma carta encíclica dirigida a todos os bispos, abades, condes e juízes e a todos os professores ortodoxos da fé cristã pedindo-lhes que recebam-no, lhe prestando consideração e ajuda, garantindo a segurança dele de uma cidade para outra.
904: Tessalônica (Grécia) cai perante as forças muçulmanas.
905: O Papa Sérgio III ajudou o bispo Hildebrando, de Silva Candida (Diocese de Porto-Santa Rufina), a restaurar alguns dos danos causados pelos sarracenos que devastaram a Igreja de Silva Candida no bairro de Roma.
915: Após 3 meses de bloqueio, as forças cristãs (lideradas pelo próprio Papa João X) saem vitoriosas contra os sarracenos entrincheirados na fortaleza que fora invadida no norte de Nápoles.
921: Peregrinos ingleses a caminho a Roma são esmagados por uma derrocada de rochas causada pelos sarracenos infestados nos Alpes.
[Ainda faltam 174 anos para a Primeira Cruzada…]
934: Gênova (noroeste da Itália) atacada pelos muçulmanos.
935: Gênova conquistada.
972: Os sarracenos são finalmente expulsos de Fraxineto (fortaleza de piratas sarracenos), liberando, assim, a região de Provença, no sudeste da França.
976: O Califa do Egito envia novas expedições muçulmanas ao sul de Itália. O Imperador Oto II, que tinha o seu quartel general em Roma, consegue derrotar os sarracenos.
977: Sérgio, arcebispo de Damasco, é expulso da sua sede pelos muçulmanos. O Papa Bento VII deu a ele a antiga Igreja de São Aleixo, na colina do Aventino de Roma, e ele fundou um mosteiro lá e colocou sob o domínio beneditino, sendo ele mesmo seu primeiro abade.
982: As forças do Imperador Oto II são emboscadas e derrotadas.
Século XI (d.C.)
1003: Os muçulmanos da Espanha saqueiam Antibes, na França.
1003–1009: Hordas de saqueadores sarracenos provenientes de bases na Sardenha (ilha a oeste da Itália no Mar Tirreno) saqueiam a costa italiana desde Pisa até Roma (quase 300 quilômetros de costa).
1005: Os muçulmanos da Espanha saqueiam Pisa.
1009: O Califa do Egito, Al-Hakim bi-Amr Allah, ordena a destruição da Basílica do Santo Sepulcro (construída em 335), em Jerusalém, onde se localiza a tumba de Jesus.
1010: Os sarracenos apoderam-se da Cosenza, no Sul da Itália.
1015: A Sardenha cai completamente em poder muçulmano.
1016: Os muçulmanos de Espanha saqueiam de novo Pisa.
1017: Frotas de Pisa e Gênova (orquestradas pelo Papa Bento VIII) dirigem-se à Sardenha e encontram os muçulmanos crucificando cristãos e expulsam o líder muçulmano. Após a derrota, Mujahid bin ‘Abd Allah, da Taifa de Dénia (cidade da Província de Alicante, Espanha) derrotado, então enviou ao Papa um saco de castanhas e uma mensagem de que ele chegaria no verão seguinte, com tantos soldados quanto havia nozes no saco. Bento VIII aceitou as castanhas e enviou um saco de arroz dizendo ao seu mensageiro: “Se o seu mestre não está satisfeito com o dano que ele fez ao dote do apóstolo, que ele venha novamente e ele encontrará um guerreiro armado para cada grão de arroz”. Os sarracenos tentaram retomar a Sardenha até 1050.
1020: Os muçulmanos de Espanha saqueiam Narbona.
1095: O Imperador bizantino Aleixo I Comneno pede ao Papa Urbano II ajuda contra os turcos. Em novembro, no Concílio de Clermont, é, enfim, proclamada a Primeira Cruzada † pelo Papa Urbano II.
O Islã, como visto pela sua cronologia expansionista militar e política, não é apenas composto por árabes e povos do deserto. Ele é uma religião política que se projeta e se impõe — pela força — a sua crença, valores, leis e hábitos em todo o Mediterrâneo.
Os exércitos e as armadas muçulmanas, por séculos, atacariam cidades (costeiras principalmente em se tratando de Europa), assassinariam, saqueariam, violariam, profanariam e escravizariam inúmeros povos e nações. Mais de um milhão de escravos (por baixo) foram levados da Europa (lugar onde a escravidão já era praticamente extinta) para o mundo islâmico (as mulheres e meninas, majoritariamente, como escravas sexuais).
Como pode se observar, os 463 anos que decorreram entre a morte de Maomé (em 632 d.C.) e a Primeira Cruzada (em 1095 d.C.), não foram tempos de “coexistência pacífica” entre muçulmanos e cristãos europeus ou bizantinos, como a narrativa lendária dominante afirma (como representada pela assertiva paradigmática de John Louis Esposito, descrita acima). E foi muito menos pacífico, principalmente, para os cristãos que viviam em seus próprios territórios ocupados pelos muçulmanos. Estes só gozavam de “paz” e mantendo o perfil social mais baixo possível, quando pagava o “jizya” (جزية), ou o imposto para os “infiéis” poderem exercer o seu credo — e em particular apenas —, se submetendo a um status de “não-gente” em terras que tinham sido cristãs e suas, antes que os invasores muçulmanos chegassem de fora.
Apenas na Espanha houve mais de 200 batalhas lutadas. O processo de defesa e reconquista da Espanha e Portugal contra as invasões muçulmanas duram praticamente 700 anos. Os muçulmanos tentaram por inúmeras vezes invadir a Europa pela Ásia Menor (Turquia). Muito depois de encerradas as Cruzadas a Península Ibérica consegue expulsar os último sarracenos (como estes chamavam os muçulmanos), Constantinopla sucumbe e cai para os muçulmanos em 1453 d.C., já o norte da África e o Oriente Médio tornaram-se completamente islâmicos. Os Islã nunca parou, sempre que um novo sultão ou califa sobe ao poder, ele é mais bem contado, dentro dos cânones do Corão e do Islã como um todo, se continuar guerreando e expandindo os Islã contra os infiéis (kafir — كَافِر).
O Dr. Bill Warner, diretor do Centro para o Estudo do Islã Político (CSPI), fez um confronto entre os poucos mais de dois séculos das Cruzadas cristãs (em torno de 16 grandes campanhas — defensivas ou de reconquista —, que adentram pela Turquia e Oriente Médio até Jerusalém e algumas incursões no norte da África) e os mais de quatorze séculos de Jihad islâmica (considerando apenas as batalhas — de invasão, domínio e escravização dos “infiéis” judeus e “idólatras” cristãos em territórios não islâmicos e majoritariamente cristãos — na Europa, Oriente Médio, Ásia Menor e norte da África, foram 548 até 1920 [e não até hoje]).
Em 5 de fevereiro de 2007, o mesmo Bill Warner, concedeu uma entrevista para a revista “Front Page”, com o título de “The Study of Political Islam” (que se encontra traduzida aqui pela equipe do Mídia Sem Máscara), que desnuda a essência do Islã político e religioso. Nesta oportunidade, o verdadeiro especialista sobre o Islã, destrincha sobre os três livros (trilogia) base do Islamismo, descreve seu dualismo enganador, e narra parte de sua história beligerante e cruel contra os infiéis (todos que não sejam muçulmanos), no Ocidente, África e no Oriente desde o século VII até hoje.
A resposta — extremamente tardia dos cristãos europeus —, sob a alcunha de “Cruzadas”, a partir 1095 d.C., foi composta por expedições que, pela primeira vez, não ficaram apenas na defensiva contra os invasores de seus territórios e saqueadores (profanadores) de locais sagrados; ou se limitou a somente os combater localmente (depois de já agredidos ou invadidos), sempre de forma remediada. Desta vez, estas forças europeias (unidas pela Igreja Católica e/ou nobres cristãos sob o signo da Cruz) se deslocaram de suas terras em direção ao inimigo — invasor de longa data —, no intuito de libertar os seus lugares sagrados e sua gente em contraponto aos quase cinco séculos de expedições militares e invasões muçulmanas destrutivas, sangrentas, violentas, bárbaras e blasfemas contra o mundo cristão.
No início do século V, duzentos anos antes de Maomé nascer, havia 700 bispos católicos na África. Duzentos deles participaram do Concílio de Cartago, em 535 d.C.; em meados dos anos 900 d.C., havia quarenta bispos restantes na África. Em 1050 d.C., havia apenas cinco restantes. Em 1076 d.C. havia somente dois… Isto é sabido devido a uma carta, “Hildebrand”, que o Papa Gregório VII escreveu para Ciríaco, arcebispo de Cartago, em junho de 1076 d.C.; como são necessários três bispos para validar a consagração de outro bispo, Gregório pediu a Ciríaco que este enviasse um sacerdote adequado a Roma que pudesse se tornar bispo assistente consagrado, para que ele, Ciríaco, Servando (bispo na Mauritânia) e o novo bispo pudessem consagrar outros bispos para os católicos africanos. Em seu leito de morte, em 1085 d.C., o Papa sonhava em formar uma “Liga Cristã” contra o Islã e disse:
“Eu preferiria arriscar minha vida para entregar os lugares sagrados, do que governar o universo”.
Papa Gregório VII
No novo milênio, o ano 1000 d.C., já havia se passado 368 anos de Jihad desde a morte de Maomé (sem considerar os combates que ele mesmo fez em vida na Arábia Saudita) contra o Ocidente. Os povos ocidentais só viram a sua situação piorar. Em 1009 d.C., como visto, o califa do Egito, Abu Ali Almançor Taricu Aláqueme, ordenou a destruição da Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém. Os muçulmanos destruíram o túmulo de Jesus, a cúpula e as partes superiores da Igreja até que sua demolição tivesse que ser interrompida pela enorme montanha de detritos nos pés dos profanadores. Durante onze anos, os cristãos foram impedidos de visitar os escombros ou sequer orar nas ruínas. Chocado pela destruição do Santuário mais sagrado para a Cristandade, o Papa Sérgio IV pediu ajuda para ir à Palestina para reconstruí-lo, mas seu apelo foi ignorado.
Parece que só após do Império Seljúcida (turcos) ter capturado Jerusalém, em 1076 d.C., que finalmente esgotou a colossal paciência dos cristãos europeus e se cumpriu o desejo do Papa Gregório VII (e de outros que já tinham tido esta idéia antes). Depois desta perda de Jerusalém, a peregrinação aos lugares sagrados se tornou inviável e perigosa; um imposto de visitação foi imposto aos peregrinos que ousavam viajar para lá (muitos foram assediados, roubados e alguns até escravizados).
No Concílio de Piacenza, na Itália, convocado pelo Papa Urbano II e realizado em março de 1095 d.C., delegados bizantinos enfatizaram o perigo enfrentado pela cristandade devido à expansão muçulmana de séculos e as enormes dificuldades enfrentadas pelos cristãos orientais. Eles repetiram um apelo feito pelo Imperador Aleixo I Comneno (atual Turquia) para Roberto II de Flandres (atual Holanda), pedindo que ele viesse para o Oriente com alguns cavaleiros para ajudar os bizantinos na luta deles contra os muçulmanos.
No final desse mesmo ano, em novembro, no Concílio de Clermont, na França, o Papa Urbano II retomou a sugestão e instigou, finalmente, os cristãos da Europa a “Tomarem o caminho para o Santo Sepulcro… Renunciem cada um a si mesmo e assumam a cruz”. E assembléia levantou-se e gritou: “Deus o quer!” (Deus vult). E assim, numa das reações mais tardias na História contra um inimigo de séculos, inicia-se as excursões militares e guerras de reconquistas denominadas de “Cruzadas”.
Foram 463 anos de luta, coragem, sofrimento, companheirismo, honra e sangue da Civilização Ocidental contra estes séculos de invasões islâmicas. Cadê o movimento editorial brasileiro traduzindo as grandes obras sobre isto, sobre as Cruzadas e sobre o período póstumo a elas? Cadê o movimento historiográfico nacional cristão transpondo em obras colossais todos estes quase cinco séculos anteriores às próprias Cruzadas? Cadê o movimento literário ficcional católico, criando e ambientando belíssimas obras nestes períodos dramáticos entre os séculos VII e XI, na Europa, norte da África e no próprio Oriente Médio e Arábia Saudita, descrevendo esta atmosfera de invasões muçulmanas, para ampliar o imaginário popular para o melhor entendimento daquele modo de vida, circunstâncias e conjuntos de valores morais e religiosos daqueles povos? Cadê os filmes sobre este período rico e carente de narrações (fidedignas) da História Humana? Não precisamos só de “O Senhor dos Anéis” e “Game of Thrones”, para nos empolgarmos com o espírito medieval; basta consultar nosso próprio passado real, destes nossos bastiões antepassados do Ocidente.
Depois disso, ainda vais acreditar nesta farsa histórica vil e imoral (permeada em todos os locais e culturas dominantes do Globo e inoculada em todos nós, desde pequenos), de que as “temíveis” Cruzadas foram más e injustas e que os jihadistas muçulmanos (maometanos, sarracenos, mouros) — que até hoje continuam na sua Guerra contra o Ocidente (que está abrindo suas portas de bom grado a qualquer um) — são realmente os coitados, vítimas e injustiçados da História?